domingo, 24 de novembro de 2019

Um pouco de Viktor Frankl - em busca de sentido





Há várias passagens memoráveis no livro "Em Busca de Sentido", de Viktor Frankl.

Gostei quando o autor tratou da complexidade da natureza humana; de como conseguiu ver bondade nos atos de alguns soldados da SS e extrema maldade por parte de alguns companheiros no campo de concentração.

"Afirmar que alguém fazia parte da guarda do campo de concentração ou que foi prisioneiro no campo não quer dizer nada. A bondade humana pode ser encontrada em todas as pessoas e ela se acha também naquele grupo que, à primeira vista, deveria ser sumariamente condenado. As delimitações se sobrepõem. Não podemos simplificar as coisas dizendo: "os prisioneiros são anjos, e os guardas são demônios". Pelo contrário. Contrariando o que de modo geral é sugerido pela vida no campo de concentração , ser guarda ou supervisor e ter uma atitude humana para com os prisioneiros sempre será de certa forma um mérito pessoal e moral. Em contrapartida, é particularmente deplorável a baixeza do prisioneiro que inflige um mal a seus próprios companheiros de dor. É claro que essa falta de caráter é mais dolorosa para os reclusos, da mesma forma como um prisioneiro, que é alvo do mais insignificante gesto humano que lhe fizer um integrante da guarda, fica profundamente comovido. Lembro-me que, um dia, um capataz (não prisioneiro) furtivamente me passou um pedaço de pão. Eu sabia que ele só podia tê-lo poupado de seu desjejum. O que me abalou a ponto de derramar lágrimas não foi aquele pedaço de pão em si, e sim o afeto humano que esse homem me ofereceu naquela ocasião, a palavra e o olhar humanos que acompanharam a oferta" (página 111/112).

Quantas vezes não somos surpreendidos por atos de maldade daqueles em quem confiamos e generosidade de quem desconfiamos? Toda traição pressupõe quebra de confiança e só confiamos naqueles mais próximos ou com quem possuímos algum ponto de contato, seja religioso, cultural ou ideológico.

A região do cérebro acionada quando nos sentimos rejeitados é a mesma responsável pela sensação de dor; ser maltratado por um companheiro de campo de concentração - guardadas as devidas proporções - é como ser apunhalado por um pai, difamado por uma mãe ou rejeitado pelo melhor amigo. Causa dor. Profunda dor.

Em uma de suas entrevistas, disponível no youtube, o autor abordou o desespero.

"Permita-me apresentar uma estranha definição do desespero. Eu costumo afirmar que o desespero pode ser definido nos termos de uma equação matemática, isto é, "desespero = sofrimento - sentido na vida". Posso dizer, então, que o desespero é igual a sofrimento sem sentido. Enquanto o indivíduo não for capaz de descobrir um sentido em seu sofrimento, ele estará propenso ao desespero e, em certas condições, ao suicídio. Mas no instante em que vê um sentido no seu sofrimento, a pessoa poderá conformá-lo a um determinado fim, transformando uma situação adversa numa realização pessoal, fazendo de uma tragédia um triunfo pessoal. Mas para isso precisa saber onde quer chegar, o que deve fazer. Mas se pessoas dos mais diversos segmentos da sociedade atual são incapazes de descobrir qualquer sentido em suas vidas, de enxergar um porquê na vida, elas realmente não tem pelo que viver"




Para aqueles que não gostam ou têm preguiça de ler deixo o audiobook do livro, também disponível no youtube.



Um abraço e até a próxima,

3 comentários:

  1. Esse livro é fantástico. Mostra de uma forma precisa como podemos tirar forças e esperanças na mais miserável situação. Excelente recomendação!

    Estou colocando seu blog em minhas sugestões da Finansfera! Excelentes livros!

    Abraço!

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  2. Muito obrigado!
    É o tipo de livro que deveria ser obrigatório nas escolas públicas do Brasil.

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  3. Esse foi um dos melhores livros que já li.
    A resiliência e a capacidade de superação de Viktor Frankl são incríveis. Poucos conseguem ser assim.

    Boa semana!
    simplicidadeeharmonia.com

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