quarta-feira, 18 de março de 2020

Um livro para os dias difíceis - Queda de Gigantes - Ken Follet

Estou lendo Queda de Gigantes de Ken Follet.

Em tempos difíceis é bom lembrar dos tempos ainda mais difíceis.

Primeira Guerra Mundial, guerra de trincheiras, Revolução Russa, Tratado de Versalhes.

Ken Follet é um dos autores mais soberbos que conheço.

Impressionante a habilidade do autor nos romances históricos.

Em tempos de dificuldade, ler sobre outros tempos - ainda mais difíceis - pode fazer bem.

Um abraço e até a próxima,


Uma carta para o futuro

Um dia você entrará no seu blog.

E lembrará do início de 2020 - pandemia, surto ou histeria do coronavírus. A história dirá qual palavra acompanhará o vírus. O certo é que, em muitos aspectos, o pequeno bichinho microscópico já entrou na história.

Não sei como estará o seu patrimônio, muito menos se estará vivo.

Uma coisa é certa: todo mundo tem um plano até levar o primeiro soco no queixo (titio Mike Tyson).

Não vendi; não comprei. Só sei que o valor de mercado derreteu (redução de 85K, desde o pico).

E daí?

Vidas serão perdidas, cadeias produtivas interrompidas - dizem uns. Nada ocorrerá - dizem outros.

A incerteza nunca foi tão certa e o chão nunca foi tão movediço.

Seja pandemia ou histeria, as consequências nos mercados financeiros são inegáveis.

Desejo a todos muita calma e sabedoria.

No fundo no fundo, quero que seja apenas uma histeria, mas é triste perceber que posso estar equivocado.

Economia é baseada na confiança, no amanhã, no futuro.

Com o futuro incerto, como é possível pensar no amanhã? Não é um vírus que ataca apenas o corpo humano; atinge em cheio a fé no porvir.

Daí que muitos vendem e colocam o dinheiro debaixo do colchão. Como se dinheiro no colchão salvasse alguém do apocalipse zumbi.

Diante de toda essa tristeza, tive uma notícia boa.

Vendi um imóvel. Mas tenho até vergonha de ficar feliz. Custei a vender, mas não consigo sorrir. É muita notícia de tragédia. Me sinto mal se ficar bem.

Pretendo quitar um financiamento imobiliário e zerar as dívidas.

E que eu não caia na tentação de jogar tudo na bolsa.

É tempo de solidariedade. Se tiver condições, doe a quem precisa. Serão tempos difíceis.

Um abraço e até a próxima,


terça-feira, 3 de março de 2020

Entre a formiga ressentida e a cigarra deslumbrada - adiar a gratificação x ganho instantâneo - o falso dilema

Olá pessoal.

Vivemos um aparente conflito, um falso dilema: ou adiamos a gratificação e vivemos no futuro ou usufruímos do ganho instantâneo e nos esquecemos do amanhã. Uns querem ser cigarra, outros formiga.


"Era uma vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque, sem se preocupar com o futuro. Esbarrando numa formiguinha, que carregava uma folha pesada, perguntou:


- Ei, formiguinha, para que todo esse trabalho? O verão é para gente aproveitar! O verão é para gente se divertir!

- Não, não, não! Nós, formigas, não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno.


Durante o verão, a cigarra continuou se divertindo e passeando por todo o bosque. Quando tinha fome, era só pegar uma folha e comer. Um belo dia, passou de novo perto da formiguinha carregando outra pesada folha.



A cigarra então aconselhou:

- Deixa esse trabalho para as outras! Vamos nos divertir. Vamos, formiguinha, vamos cantar! Vamos dançar!


A formiguinha gostou da sugestão. Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver também como sua amiga. Mas, no dia seguinte, apareceu a rainha do formigueiro e, ao vê-la se divertindo, olhou feio para ela e ordenou que voltasse ao trabalho. Tinha terminado a vidinha boa.



A rainha das formigas falou então para a cigarra:

- Se não mudar de vida, no inverno você há de se arrepender, cigarra! Vai passar fome e frio.


A cigarra nem ligou, fez uma reverência para rainha e comentou:

- Hum!! O inverno ainda está longe, querida! Para cigarra, o que importava era aproveitar a vida, e aproveitar o hoje, sem pensar no amanhã. Para que construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo.


Certo dia o inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, foi bater na casa da formiga. Abrindo a porta, a formiga viu na sua frente a cigarra quase morta de frio.



Puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa bem quente e deliciosa.



Naquela hora, apareceu a rainha das formigas que disse à cigarra:

- No mundo das formigas, todos trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: toque e cante para nós. Para cigarra e paras formigas, aquele foi o inverno mais feliz das suas vidas.




Quem nunca ouviu que caixão não tem gaveta? Que pensar no futuro é deixar de viver o presente? Que não adianta acumular para o inverno, pois não se tem certeza se viverá até lá? Que a cigarra foi a única que se deu bem na história, pois foi feliz o tempo inteiro?

Em contrapartida, quem nunca ouviu que devemos abdicar de viver o presente para construir um futuro melhor? Que a cigarra deu sorte de precisar de uma formiga, pois se fosse de um ser humano morreria de fome? Que depender dos outros - seja governo, empresa, família ou quem quer que seja - é uma das piores coisas que alguém pode fazer?

A fábula da cigarra é maravilhosa, pois é mais difícil ensinar o adiamento da gratificação do que a fruição instantânea - e viva o teste do marshmallow (http://www.simplicidadeeharmonia.com/2020/03/a-dificil-arte-de-saber-esperar.html).

Entretanto, não precisamos ser cigarras nem formigas. Devemos e precisamos buscar um equilíbrio entre a fruição imediata dos bens e o adiamento da gratificação. 

Não está escrito nas estrelas que ou poupamos ou somos felizes; ou investimos ou somos alegres.

Nem formiga ressentida nem cigarra deslumbrada.

O caminho dos poupadores é menos difícil quando aprendem a usufruir ao longo do processo.

Um abraço e até a próxima.





segunda-feira, 2 de março de 2020

É possível ter filhos e alcançar a independência financeira?

Olá pessoal.

Ao ler artigos sobre o movimento FIRE em inglês deparei com uma constatação: uma parcela considerável dos aspirantes à independência financeira é formada por casais em que ambos trabalham e não desejam ter filhos - "DINK" (double income, no kids). No caso de minha família, não temos duas rendas fixas - no momento - e temos filhos, ou seja, não nos encaixamos nesse perfil. Há esperança para os casados com filhos ou estamos fadados a uma vida na eterna corrida dos ratos?

Antes de tentar responder a pergunta, uma pequena história. Meu avô materno teve 16 irmãos; minha avó 12 - outros tempos. Viviam na roça e era bastante comum famílias grandes, com muitos descendentes. Começaram a trabalhar cedo, por volta dos 7 anos. Frugalidade e simplicidade não eram opções como em nossas vidas pós-modernas - eram necessidades. Tiveram 5 filhos. Em média, cada filho proporcionou 2 netos. A maioria dos netos não deseja ser pai nem mãe. 

O parágrafo acima pode ser substituído pela taxa histórica de fecundidade no Brasil:




Como podem perceber, houve uma queda considerável na quantidade de filhos por mulher. Recordo-me de que, no bairro em que cresci, havia muitas crianças nas ruas brincando e se divertindo. Eram ótimas atividades e que não tinham nenhum custo. Quem jogou bola na rua sabe o prazer proporcionado pela brincadeira. Tenho saudades do futebol, pique-esconde e de soltar papagaio (pipa). E pensar que toda essa diversão só tinha o custo de alguns arranhões, tampões de dedo irrigando o asfalto e braços destroncados. Muita alegria, baixas expectativas e baixos custos.


 Minha infância e adolescência: futebol de rua era meu sobrenome


Atualmente, não há mais diversão nessa rua. E não é por conta de insegurança ou criminalidade - na verdade, sinto que hoje é até mais seguro, ao menos nesse local. Simplesmente as crianças sumiram. As poucas que existem preferem brincadeiras mais "seguras" como ficar no youtube o dia inteiro ou jogar "counter strike". Se a criança quiser jogar futebol precisa pagar mensalidade na escolinha do bairro.

Muitos que planejam a independência financeira não possuem nem querem ter filhos. O novo "normal" é não casar; se casar, separar com menos de um ano; se casar e não separar, não ter filhos.

Daí que, ao menos no meu círculo de convivência, ter 30 e poucos anos, dois filhos e mais de 10 anos de casado é fazer parte do "politicamente incorreto". Acrescente a tudo isso uma ideia maluca que beira heresia no nosso sistema e até em parte da blogosfera nos últimos dias: acumular patrimônio e renda que lhe permitam viver sem que precise vender sua força de trabalho.

Afinal, é possível casar, ter filhos e acumular patrimônio? 

A resposta, como tudo nessa vida, é DEPENDE; do quanto ganha, do quanto gasta e das expectativas.

Primeiro depende de você e de suas expectativas. As aspirações dos meus bizavós e avós eram de sobreviver sem que a prole morresse no caminho - só isso. Essencial era comida, água e lugar para morar - e olhe lá.

Geração após geração as expectativas foram infladas e hoje o básico para sobreviver é: internet de 100 mega, netflix, amazon prime, mudar para Portugal, youtube premium, premiere fc (quem vive sem futebol), iphone, escola integral e bilíngue, plano de saúde com apartamento na cobertura, ifood 3 vezes por semana, churrasco com os amigos, inglês desde os 3 anos, xbox ou ps4, TV 4K, 2 carros para a família, empregada doméstica, psiquiatra, diarista, babá, intercâmbio para Nova Zelândia, viagens para a Disney (de dois em dois anos), psicóloga, personal trainer, viagem para a praia todo o ano, roupas de marca, etc. A verdade é que não há limites para nossas expectativas, principalmente se deixarmos que sejam controladas pela nossa sociedade "pouco consumista".

Não basta controlar suas expectativas; não se esqueça das expectativas do cônjuge e, principalmente, dos filhos. Você se esforça para ensinar aquilo que reputa de valor para os filhos, mas com 6 anos pode ouvir a seguinte pergunta: "papai, já que todos meus amigos tem um iphone, quando vou ganhar um"?

Ainda não ouvi essa pergunta, mas tenho certeza de que lidarei com essas questões em algum momento.

Em segundo lugar, entendo que, tão importante quanto educar os filhos sobre como gastar, é prepará-los para ganhar e conquistar a independência. Fico cada vez mais assustado com o nível de preguiça dos jovens e adolescentes que conheço. Sempre quis crescer e ser independente. Não sei de onde veio, mas sempre tive esse desejo. Meu maior desafio é proporcionar a maior dignidade possível para os filhos e, ao mesmo tempo, acender e fazer permanecer acesa a chama do desejo e da conquista. 

Não é exatamente fácil - nos dias atuais -  criar filhos educados financeiramente e, ao mesmo tempo, batalhadores. Afinal, "por que vou ganhar pouco mais de um salário mínimo se não preciso de muito e os papais me dão tudo de que preciso para ser feliz"

Queria ter uma resposta simples. O que tento fazer é manter minha família com os pés no chão, mas os sonhos nas nuvens. Conviver com pessoas não apenas pela posição social ou pelo status; mas por aquilo que são, sem deixar de almejar por dias melhores. Frequentar espaços de gente normal, com lutas normais e que valorizam um prato de comida. Ensiná-los a gastar e a ganhar. E, não menos importante, não inflar o padrão de vida apenas porque todo mundo acha bonito.

Um bom resumo do que desejo ensinar para os filhos é a frase do pregador inglês John Wesley: "ganhe o máximo que puder, economize o máximo que puder e doe o máximo que puder".

Para uma boa parcela da sociedade casamento e filhos são coisas impensáveis. São âncoras que estragam a vida e limitam a existência.

Para mim, ao menos até hoje, são sinônimos de prazer e responsabilidade. E essa responsabilidade - inspirado naquilo que diz o Jordan Peterson - é o que me impulsiona a estudar sobre finanças, investimentos e desejar um futuro melhor para mim e minha família.

A responsabilidade na família pode ser um peso e um alívio. Um peso por saber que sua família depende de você, mas um alívio por fornecer sentido em um mundo caótico e cada vez com menos significado.

Não há dúvida de que o caminho dos DINKs é menos difícil, principalmente no movimento FIRE. De toda forma, estou na luta pela independência financeira com e pela família; se a independência não vier, não tem problema. Mas vou lutar até o fim ao lado dos meus e para os meus.

Um abraço e até a próxima.

Palestra de Rossandro Klinjey sobre criação e filhos ingratos: