quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Raia Drogasil (RADL3) - Uma análise do P/L histórico


Olá pessoal!

Fiz uma postagem sobre o FLMA11 - FII com maior rentabilidade na carteira-.

Resolvi escrever um pouco sobre Raia Drogasil S.A. (RADL3), a ação com maior rentabilidade no meu portifólio.

Foram utilizados dados dos sites fundamentus (fundamentus.com.br) e oceans 14 (oceans14.com.br).

Desde que comecei os investimentos em renda variável tive vontade de comprar RADL3. O motivo é bastante subjetivo e não tem nada de análise técnica ou fundamentalista (é mais uma análise de umbigo). 

Tenho conhecidos empresários que quebraram em diversos negócios. Só não quebraram quando abriram uma farmácia. Por um brevíssimo período de tempo trabalhei em uma farmácia e pude ver o quanto esse negócio - até mais ou menos administrado - pode fazer dinheiro no Brasil.

Eu sei que o argumento é ridículo, afinal, quantas farmácias não quebram todos os meses no país? 

Achei importante lançar o argumento "ridículo" porque nem sempre temos justificativas técnicas ou fundamentalistas para justificar nosso interesse inicial em um ativo. 

A RADL3 é uma empresa de crescimento. Não foca no pagamento de dividendos aos acionistas. Requer um alto investimento anual na abertura de novas lojas. Não é grande a barreira de entrada para qualquer um constituir uma farmácia. Tem margem líquida baixa (4,9%) - é o mesmo que dizer que vende muito para lucrar pouco. Atualmente, tem um P/L de 51,61. Para muitos a simples análise do P/L e da margem baixa já seriam suficientes para afastar o interesse no ativo.

De acordo com o site fundamentus, nos últimos 12 meses, a ação valorizou 102,55%.

Quero focar agora no indicador P/L (histórico).

O site oceans14 é dotado de uma ótima ferramenta - pública e gratuita - que traz o P/L histórico de um ativo. 

Digamos que você esteja pensando que o P/L de 51 é alto demais e só investiria em Raia Drogasil quando a relação preço/lucro estivesse abaixo de 20. 

Segue o gráfico histórico do P/L (oceans 14):



Ao analisar o gráfico pode perceber que, entre 2012 e 2020 (período do gráfico), não houve nenhum momento em que a relação P/L estivesse abaixo de 30.

O pico ocorreu em maio de 2012 (P/L de 91) e a mínima em julho de 2019 (P/L de 31).

É muito difícil precificar empresas de crescimento. O mercado faz um exercício mediúnico de antecipar o futuro e precificar o ativo imaginando o quanto a empresa crescerá nos próximos anos. 

Escrevi tudo isso apenas para dizer que, em uma empresa de crescimento, se tomar como referência apenas o P/L, jamais entrará no ativo.

A título de comparação veja o P/L histórico de Itaúsa (ITSA3):




Segundo o site Oceans 14 o P/L atual de Itaúsa é de 12,17, mas já houve ótimos pontos de entrada em 2014, 2015 e início de 2016 (P/L entre 4 e 5). 

Tenho ambos ativos (RADL3 e ITSA3) e pretendo ficar com eles por um bom tempo.

Caso esteja interessado no investimento em ações consulte o site Oceans 14 e verifique o P/L histórico.

Pode auxiliar na tomada de decisão.

Um abraço e até a próxima,

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Fechamento : taxa de poupança, fire e livros lidos

Olá pessoal. 

Seguem os dados do mês de dezembro e de parte de janeiro.


 1) Taxa de poupança: 54,2% 

 2) Meta atingida para independência financeira (apenas ativos financeiros): 16,13%. 

 3) Livros lidos no último mês: A riqueza da vida simples (Gustavo Cerbasi); O mito dos mercados racionais (Justin Fox) e Didaquê (O catecismo dos primeiros cristãos). 

 4) Livros que estou lendo: Agarrei na leitura de Irmãos Karamázov e Ferramentas de Titãs. Retomei a leitura do Alcorão.

 5) Livros adquiridos: Não comprei nenhum livro.

 6) Carteira de renda variável: Não houve alteração nos ativos. Aporte em renda fixa e PIBB11. 


A meta atingida foi impactada positivamente pela venda de um imóvel adquirido em leilão extrajudicial. 

Como a venda foi parcelada, haverá um incremento no aporte nos próximos meses. Para quem deseja saber mais sobre o tema - como o aguardado livro do SoulSurfer ainda não foi publicado - recomendo a obra "Manual Prático de Arrematação de Imóveis em Leilão da Caixa: Para Leigos" de Eliana Pacco. 

O livro é meio caro, mas foi o melhor que encontrei. É simples, com linguagem direta e objetiva. Bem melhor do que um curso online que fiz e que custa 4 vezes mais. 

 Desde já adianto que arrematar imóveis em leilão é como um outro trabalho; é mais trabalho do que investimento. Tem riscos e não vale a pena para a maioria das pessoas. 

 Um abraço e até a próxima,



quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

FLMA11 e a hipótese dos mercados (in)eficientes

Olá pessoal,

A hipótese dos mercados eficientes é base para precificação de diversos ativos. Grosso modo, é apoiada na ideia de que toda informação está disponível para todos e incorporada aos ativos. "Os preços, nessa lógica perfeita, refletiriam o que todo e qualquer investidor sabe a respeito deles, sendo impossível alguém lucrar com informação exclusiva" (Samy Dana sobre a HME).

Quando iniciei os aportes em FIIs, todos os meses sobrava um capital que alocava em FLMA11 (na época cada cota valia R$ 2 reais e alguma coisa) e em MXRF11 (R$ 10 e alguma coisa).

Passados 2 anos verifico que minha rentabilidade acumulada do FLMA11 - acrescidos os proventos - é de míseros 111,83%, em menos de 2 anos (meu ativo campeão de rentabilidade). Já foi maior, visto que hoje a cotação está em R$ 4,93, mas já esteve em R$ 6,47.

O que explica a valorização do FLMA11 e seu P/VP de 1,7 ? Um conjunto de imóveis avaliado em cerca de R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões), mas que está sendo negociado como se valesse R$ 340.000.000,00 (trezentos e quarenta milhões), conforme dados do Clube FII.



A resposta simples que muitos acreditam é a seguinte: "o Sr. Mercado é soberano e o preço do ativo reflete a opinião média dos investidores que têm acesso a todas as informações disponíveis sobre o FLMA11 - enfim, o mercado é eficiente. E se estiver errado é por curto prazo e haverá a correção. Ele nunca erra por muito tempo".

Segundo o Clube FII, o FLMA11 é "um fundo de investimento imobiliário (Square Faria Lima) constituído sob a forma de condomínio fechado, cujos recursos tem por objetivo a exploração, mediante arrendamento e/ou locação, de parte das unidades imobiliárias do empreendimento multifuncional Continental Square Faria Lima. Possui como ativos 18 conjuntos de escritórios da Torre Comercial e 75 % da operação hoteleira, hoje sob a bandeira da Pullmam".

"A valorização do ativo coincide com a explosão no número de investidores"


No livro "O Mito dos Mercados Racionais" Justin Fox aborda como surgiu a hipótese dos mercados eficientes. Trata da evolução das seguintes ideias: a) a maioria dos gestores de fundos perde para fundos de índices; b) a bolsa americana é eficiente para precificar ativos listados; c) portanto, todo e qualquer mercado é eficiente para precificar todo e qualquer ativo. Apenas a premissa "a" era um fato comprovado, mas houve todo um esforço acadêmico e de setores da economia para que as hipóteses "b" e "c" fossem "confirmadas", no melhor estilo "escolhendo dados favoráveis para provar que minha teoria está correta", ou seja, se a hipótese não se aplica é melhor reinterpretar a realidade do que dizer que a hipótese não é tão eficiente assim.

O livro foi lançado logo após a crise de 2008 - nos Estados Unidos. É uma aventura sobre acadêmicos, gestores e economistas, partindo do início do século XX, com Irving Fisher e o crash de 1929, passando por Eugene Fama, Warren Buffet, Paul Samuelson, Escola de Chicago, Edward Thorp e vários outros, até a queda de 2008.

Se o mercado é eficiente eu não sei; eu sei que no caso do FLMA11 ele deve estar, no mínimo, esclerosado (eficiência raquítica). Meu palpite é de que o mercado nem sempre é eficiente. Há assimetria no acesso às informações e há assimetria na interpretação dos dados. Qualquer pessoa que já conviveu com seres humanos ou frequentou uma escola sabe que as pessoas são muito diferentes e reagem de forma diversa a informações idênticas. As conclusões das pesquisas em economia comportamental expostas no livro "Rápido e Devagar" demonstram isso.

Voltando ao FLMA11, para mim os motivos da súbita alta são os seguintes: a) explosão do número de investidores de FIIs; b) isenção de corretagem em algumas corretoras para compra de FIIs; c) queda da taxa SELIC; d) O VALOR DA COTA - que facilita o pequeno investidor amador comprá-la como troco do aporte; e) pagar R$ 5,00 em algo que vale R$ 2,90 é muito diferente de pagar 340 milhões em algo que vale 200 milhões; f) o investidor iniciante entende ser melhor pagar R$ 5,00 em algo que vale R$ 2,90 do que deixar o dinheiro parado na corretora; g) possibilidade de comprar apenas 1 cota sem maiores custos (não há lote mínimo); h) o FII é um bom ativo; i) muitos investidores não vendem porque não desejam pagar imposto.

A história recente do FLMA11 é tão bizarra que a B3 indagou ao administrador do FII se havia algum motivo para a alta. O administrador respondeu que não fazia a menor ideia do motivo. Brincadeira a parte, é quase como se a B3 dissesse - "considerando que o mercado é eficiente e o preço não importa, há algum motivo para a alta súbita? E o administrador respondesse: não há fato relevante e não tenho a menor ideia do porquê da alta. O mercado não é eficiente e o preço importa".



Se eu fosse gestor de um FII prepararia um produto com as seguintes características: a) multi-imóvel; b)multi - inquilino; c) valor da cota na emissão inicial de R$ 1,00.

R$ 1,00 foi o valor da cota inicial no FLMA11. Esse valor traria uma alta volatilidade no ativo, mas despertaria a atenção de diversos investidores ávidos por FIIs com cotas de baixo valor. É dinheiro certo na mão do gestor e administrador. Uma coisa que aprendi ao observar gestores de fundos - inclusive imobiliários - é que eles são bastante eficientes para aumentar suas comissões. Aos gestores a hipótese forte dos mercados eficientes se aplica como uma luva. 

Uma auto-provocação: se o blogueiro tem tanta certeza de que a cota está esticada então por que não vende as suas? A resposta: a) preguiça de gerar DARF; b) preguiça de pagar imposto; c) minha participação é ínfima; d) só giro patrimônio quando acredito que o ativo perdeu algum bom fundamento ou tenha alguma "super oportunidade".

Isso significa que eu estou disposto a "deixar dinheiro na mesa" e "não pegar a nota de um real na esquina". Quem conhece a hipótese dos mercados eficientes entendeu que, de todo jeito, eu não sou um bom exemplo para confirmar a tese.

Só para deixar claro: atualmente deixo o troco do aporte na corretora. Não compro FLMA11 há bastante tempo.

Um abraço e até a próxima,