O livro, embora antigo, tem insights impressionantes sobre o comportamento do investidor e da bolsa de valores no Brasil. Um material escrito por um brasileiro há muito tempo atrás. Tempo em que o mundo - literalmente - era outro. E nisso reside seu maior valor.
Temos uma literatura abundante sobre mercado de capitais no exterior, mas a literatura brasileira é de uma pobreza franciscana. A maioria dos bons livros é recente.
Disso decorre a importância da obra de Décio Bazin. Embora trate de uma outra realidade, em que as negociações não eram eletrônicas, a sabedoria nele contida perpassa gerações e será relevante para todo investidor amador que deseja construir um bom patrimônio.
Eu gosto de conversar com idosos. Até quando falam bobagens ensinam. Ler o livro do Décio é como conversar com um senhor de idade - experiente -, que já viu muita coisa na vida e está disposto a ensinar os mais jovens. Quem não gosta de conversar com idosos não gostará de ler a obra de Décio Bazin.
1) Sobre a necessidade de tomar suas próprias decisões:
“Em matéria de
dinheiro, na Bolsa como na vida, você está sempre só. Prepare-se para tomar
atitudes sozinho e também para nunca repartir responsabilidades nem vantagem.
Quando eu era
adolescente, tive um vizinho que muitas vezes me aconselhou a jamais confiar a
terceiros a administração de bens patrimoniais. Certa vez ele incumbiu seu
filho mais velho de administrar-lhe a fazenda de café, com poderes para comercializar
as safras como bem entendesse. Pouco mais tarde percebeu que o filho lesava na
prestação de contas.
Essa história encerra
uma lição. Se não pode confiar nem no próprio filho, em quem confiar? A resposta
é: em ninguém. O ser humano é fundamentalmente desonesto em assuntos de
dinheiro. Os poucos que se imaginam honestos precisariam ser experimentados,
mas experimentações costumam sair caro nesse campo. Dinheiro é preciso ganhar
sozinho. E empregar sozinho” (Kindle, posição 1597)
Eu até arrepio quando leio essa passagem. É o obvio que
precisa ser dito e repisado. Todo mundo conhece a história de alguém que
confiou em um amigo, familiar, piramideiro profissional ou estelionatário e se lascou.
Prepare-se
para tomar suas próprias decisões e assumir as consequências. A solidão não é
opcional. É a única certeza na jornada dos investimentos.
2) Sobre os analistas e especialistas de mercado:
“Desconfiamos quando os
técnicos e teóricos “explicam” a Bolsa e fazem previsões de movimentos futuros.
Eles protagonizam uma farsa que se destina a satisfazer vaidades ou
simplesmente garantir empregos.
Há muito tempo os
investidores da velha cepa aceitaram a verdade cristalina de que, para ganhar
dinheiro na Bolsa, ninguém precisa conhecer mais do que as quatro operações
aritméticas, como já dizia o escritor Gerard Harntzschel.
Por essas razões, se o leitor estiver começando agora a interessar-se pelo mercado acionário,
sugiro-lhe que nunca preste atenção ao que dizem os especialistas e os técnicos;
que não leia sequer o comentário diário que alguns jornais publicam sobre o
Mercado; e que grave na memória que os que têm grande patrimônio em ações só
leem o noticiário da Bolsa quando querem dar risadas”
Sensacional! Todos os investidores novatos deparam com notícias,
dicas, comentários, enfim, há uma miríade de analistas e especialistas no
assunto que só sabem viver de "vender cursos para ficar rico". Uns chutam que tudo vai desabar. Outros que tudo vai subir. Chutam
toda semana. Uma hora acertam. É como diz a lenda: “os economistas acertaram 5 das últimas 9 recessões que previram”.
Quem prevê o tempo inteiro uma hora acerta. Mantenha a máxima
distância possível de sites que recomendam carteiras semanais, mensais, diárias
e sei lá o que. Só tem como propósito estimular o giro de patrimônio e ganhar
corretagem de investidor trouxa.
3) Sobre o papel da CVM, bolsa e a mentalidade dos empresários brasileiros
“Nunca se viu a CVM
empreender qualquer campanha eficiente de convencimento das empresas a
democratizarem o capital. A abertura de mais empresas para a Bolsa em
quantidade crescente é vital para a expansão e até mesmo para a sobrevivência do
mercado acionário; teoricamente, atende aos interesses das próprias companhias.
Para que mais empresas
se interessassem, seria necessário, numa campanha de longo prazo – não de
afogadilho e só nas épocas de booms-, mudar a mentalidade de muitos dos nossos
empresários, viciados de longa data em ganhar dinheiro graças à obtenção de
favores governamentais, e conhecidos pela aversão que têm em dividir o lucro
com outros sócios.
Convencê-los a abrir
mão dos seus lucros não seria, porém, tarefa difícil, embora fosse demorada.
Demandaria tempo inculcar neles o princípio de que o lucro tem uma finalidade
social e não pertence a poucos, já que não estamos mais na Idade Média” (Kindle,
posição 3941).
A crítica é direcionada, no início, à
CVM, autarquia responsável pela fiscalização e controle do mercado de capitais.
De fato, nunca vi nenhuma campanha publicitária, ainda que de pequeno porte, da
CVM. Também nunca vi nada parecido por parte da B3. O problema deve estar comigo que quase não vejo televisão - rede aberta.
A B3 parece estar deitada eternamente
em berço esplêndido, descansando no seu monopólio. Enquanto isso, empresas brasileiras
começam a iniciar o movimento para abertura de capital no exterior. E o que a
B3 fez para mudar esse quadro? Aparentemente, nada. Muitos brasileiros começam
a constituir carteiras de investimento no exterior. O que a B3 e as corretoras
fazem a respeito? Aparentemente, nada. Precisamos estimular a abertura de capital no Brasil. Talvez o único caminho seja acabando com esse monopólio da B3.
Outra crítica sensacional é
direcionada aos empresários brasileiros que têm extrema dificuldade em dividir
o lucro com outros acionistas. Vou além: até hoje não consigo compreender o
porquê de muitas sociedades empresárias “abrirem capital” oferecendo apenas
ações preferenciais ou units, de modo a alijar o pequeno investidor dos mesmos
tipos de ações de que os donos são portadores.
Uma crítica certeira é à dependência que
grandes empresas no Brasil têm de favores governamentais. É antiga a relação de
compadrio tupiniquim. A bolsa - empresário veio muito antes do bolsa - família.
Algumas sociedades empresárias são quase capitanias hereditárias dos tempos
modernos. Só funcionam por conta do auxílio do Estado. Só não vê quem não quer. .
4) Uma estratégia e a necessidade de não se importar muito com o mercado
“Comprar, comprar e
comprar ações de empresas sólidas até alcançar o objetivo final, e ficar longe
do agitado mundo da Bolsa e das suas más influências, eis o segredo.
É conselho prático, decepcionante
pela sua simplicidade e que por isso mesmo as pessoas de mente complicada
relutam em aceitar.
(...) A única realidade
concreta do Mercado são as ações de empresas sólidas que o Investidor genuíno
mantém em sua carteira para delas usufruir benefícios no futuro.
Muitos especuladores demoram anos para
compreender essa verdade tão simples. Felizes daqueles que a compreendem a
tempo de ter força e disposição para começar no caminho certo”
Comprar, comprar e comprar, todos os
meses, independente se subiu ou desceu. Daqui eu tirei a certeza de que deveria
manter minha “estratégia”. Trouxe-me paz e tranquilidade. Desde então descansei
e desisti de tentar prever o futuro.
Há várias estratégias de investimentos. Para tornar mais simples vou exemplificar duas. A primeira é a de "comprar e vender" quando há lucro; a segunda é "comprar, comprar e comprar" e manter o máximo de tempo o ativo na carteira. É possível, também, mesclar as duas.
Há várias estratégias de investimentos. Para tornar mais simples vou exemplificar duas. A primeira é a de "comprar e vender" quando há lucro; a segunda é "comprar, comprar e comprar" e manter o máximo de tempo o ativo na carteira. É possível, também, mesclar as duas.
Quem é bom em acertar o "tempo do mercado" - market timing - consegue bons lucros. Não é para mim - por falta de tempo e de capacidade. Desejo o máximo de tempo disponível e de paz na vida. Investir todos os meses em alguns ativos pré-selecionados é mais fácil e proporciona mais tranquilidade. Além disso, o aporte mensal cria um ótimo hábito de poupança. Só preciso escolher um dos ativos pré-selecionados - mais descontado ou desvalorizado -, respeitando o limite máximo de 2% do patrimônio total por ativo.
Inicialmente, minha meta principal era de conquistar uma renda passiva mensal. Daí a alocação em FIIs. Depois investi em algumas ações. Pretendo manter, por mais um tempo, o investimento em FIIs e ações, até atingir um certo patamar.
Um ETF de FIIs pagador de proventos é um sonho. Um ETF de ações que pagasse dividendos também não seria nada mal. Mas não temos esses ETFs no mercado de renda variável brasileiro - e viva a B3, gestoras e corretoras por não estimularem esse tipo de produto. Só gostam mesmo é de COE e day-trade.
É bastante provável que, no início de 2020, escolha alguns ETFs cumulativos - é o que temos para hoje - e comece a fazer a estratégia do "custo médio" - dollar cost averaging -, paralelo ao investimento em FIIs e ações. E, atingido determinado valor em patrimônio, inicie os investimentos no exterior.
Assim, terei uma carteira com ETFs brasileiros, ações, FIIs, ETFs e ações estrangeiras.
Esse é o plano de longo prazo, ao menor por ora.
E qual o seu plano?
Segue entrevista com a filha do Décio Bazin, disponível no youtube.
Um abraço e até a próxima,
Gostei da sua resenha, eu ainda não conhecia esse livro.
ResponderExcluir"Prepare-se para tomar suas próprias decisões e assumir as consequências. A solidão não é opcional. É a única certeza na jornada dos investimentos."
Melhor a instrução do que confiar nos outros e depois perder o dinheiro e a amizade.
Boa semana,