terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Você não é tão esperto quanto pensa – 48 maneiras de se autoiludir









Um livro que quebra diversos paradigmas e demonstra o quanto somos e podemos ser enganados por nós mesmos.

Em uma época de bombardeio de informações – via redes sociais, canais de notícias e televisão – somos constantemente influenciados por narrativas – muitas vezes falsas – que moldam nossa visão de mundo.

Nesse ponto o livro é bem direto: em alguma medida, ainda que apenas em alguns assuntos, somos todos iludidos. Uns mais, outros menos. A diferença é que alguns têm a consciência de que podem ser iludidos, ao passo que outros têm a convicção de que são portadores da verdade absoluta: criaturinhas sábias e perfeitas.

Eis alguns trechos da introdução do livro:
Você pensa que sabe como o mundo funciona, mas na verdade não sabe. Você passa pela vida formando opiniões e juntando remendos de uma história sobre quem você é e por que fez as coisas que fez até ler essa sentença, e, levando em consideração o todo, parece muito real.
A verdade é que há um crescente corpo de trabalhos no campo da psicologia e da ciência cognitiva que afirma que você não tem nenhuma noção de por que age da forma que age, escolhe as coisas que escolhe ou pensa os pensamentos que pensa”
(...) “Do maior cientista ao mais humilde artesão, todo cérebro dentro de todo corpo está infestado de noções preconcebidas e padrões de pensamento que o desnorteiam sem que o cérebro perceba. Então você está em boa companhia. Não importa quem são seus ídolos e mentores, eles também são propensos a falsas especulações”.
As tendências cognitivas são padrões previsíveis de pensamento e comportamento que o levam a tirar conclusões incorretas. Você e todos os outros vieram ao mundo pré-carregados com essas formas desagradáveis e completamente errôneas de ver as coisas, e raramente as percebe. Muitas delas servem para mantê-lo confiante nas suas próprias percepções ou para inibi-lo de ver a si mesmo como um bufão. A manutenção de uma autoimagem positiva parece ser tão importante para a mente humana, que você desenvolveu mecanismos mentais projetados para se sentir ótimo com relação a si mesmo. Tendências cognitivas levam a escolhas pobres, maus julgamentos e percepções excêntricas que estão quase sempre totalmente incorretas. Por exemplo, você tende a procurar por informações que confirmem as suas crenças e ignora informações que as desafiem. Isso se chama viés da confirmação. Os conteúdos da sua estante e o seu histórico de navegação na web são um resultado direto disso”.
O autor aborda o conhecido viés de confirmação e o quanto ele pode nos prejudicar  (tópico 3 do livro).
O EQUÍVOCO: suas opiniões são o resultado de anos de análise racional e objetiva.
A VERDADE: suas opiniões são o resultado de anos em que você prestou atenção a informações que confirmavam o que você acreditava, enquanto ignorava aquelas que desafiavam suas noções preconcebidas

Somos todos enganados pelo viés de confirmação - tal como o vilão Thanos - ele é inevitável. A nossa luta diária, no meu entendimento, é ter consciência das nossas convicções – creio que nenhum ser humano saudável consiga viver sem algumas -, mas manter-se aberto para entender o ponto de vista do outro e ouvi-lo de verdade.

“Só os loucos não mudam de opinião”, diz o ditado.

Eu e você somos cheios de convicções. Tenho certeza sobre várias coisas que, daqui alguns dias, anos ou séculos poderão se mostrar equivocadas, mas é possível viver sem convicção? Será o viés de confirmação um mal necessário?

Imagine que todos os dias você questionasse suas próprias convicções. Tivesse dúvidas quanto à sua crença: um cristão que vive a procurar por contradições na Bíblia ou no credo dos apóstolos; um muçulmano que duvida ocasionalmente das palavras de Maomé; um ateu que tem medo de escuro ou vive a falar mal de Deus - como é possível falar mal ou ter raiva de algo que não existe ? -. Sua vida seria dedicada a duvidar e, muito provavelmente, não conseguiria ser produtivo, tampouco construir qualquer coisa digna nessa existência, seja um trabalho, empresa ou família.

Creio que o viés de confirmação, apesar de nos levar a cometer muitos equívocos, é necessário para manter a estabilidade psíquica e emocional do ser, sob pena de se ver colapsado pelas próprias dúvidas.

Buscamos evidências que confirmem nossas crenças e, não raro, fechamos os olhos para aquilo que as desafia.

Essa noção é muito bem esclarecida por Nassim Taleb em seu célebre “A lógica do Cisne Negro”.

As melhores convicções são aquelas que, testadas a ferro e fogo, não capitulam diante das dificuldades e do contraditório.

Questione-se, com moderação.

Um abraço e até a próxima.




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